Existe diferença entre
estar no mundo e com o mundo. Partindo desta afirmação Freire (2001) vê na
educação uma forma de prática da liberdade. De acordo com o autor, o fato do
indivíduo não apenas viver no mundo, mas sentir-se parte deste, faz com que
ultrapasse a posição de agente passivo, podendo interferir no meio em que está
inserido, e consequentemente modificá-lo.
A integração ao seu
contexto, resultante de estar não apenas nele, mas com ele, e não a simples
adaptação, acomodação ou ajustamento, comportamento próprio da esfera dos
contatos, ou sintoma de sua desumanização, implica em que, tanto a visão de si
mesmo, como a do mundo, não podem absolutizar-se, fazendo-o sentir-se um ser
desgarrado e suspenso ou levando-o a julgar o seu mundo algo sobre que apenas
se acha. (FREIRE, 2001, p. 50).
Segundo Freire (2001) a Educação pode servir tanto para
massificar e ajustar o indivíduo ao meio, resultando em um sujeito alienado,
quanto para formar cidadãos críticos, do qual o autor acredita, considerando o
contexto brasileiro, que contribua não somente para a diminuição dos índices de
analfabetismo, mas como peça fundamental na democratização.
Para tanto o papel da educação deve vir no sentido de libertar o
indivíduo, mas isso só é possível quando é propiciado ao educando um
conhecimento através das experiências de vida que ele já possui, vinculando
assim a aprendizagem escolar a aprendizagem da vida, o que fará com que este se
sinta parte do social e não mero expectador, desenvolvendo assim uma visão
crítica de mundo, conscientizando-se da importância da sua participação, além
de perceber-se como agente ativo na possível transformação da realidade que o
cerca.
Estávamos
convencidos, e ainda estamos, de que a contribuição a ser trazida pelo educador
brasileiro à sociedade em “partejamento”, ao lado dos economistas, dos
sociólogos como de todos os especialistas voltados para a melhoria dos seus
padrões, haveria de ser uma educação crítica e criticizadora. (FREIRE, 2001 p.
93).
Para Freire (2001) quanto menos crítico o sujeito é, mais
ingenuamente ele trata os problemas e superficialmente discute os assuntos,
consequentemente mais longe ele se encontra da busca de uma nova configuração
sócio-cultural. Sendo assim, de acordo com esse autor, práticas educacionais
que ditam ideias ao invés de trocar ideias, discursam aulas ao invés de
debater, trabalham sobre o educando e não com ele, reforçam esta identidade de
sujeito passivo, fazendo com que este se acomode e aprenda apenas a guardar
informações ao invés de compreendê-las e formar sua própria opinião.
Comportamento este que se
reflete socialmente, o qual hoje é possível visualizar nitidamente no panorama
brasileiro, caracterizado pela violência, pelo descaso do governo com a própria
educação, pela desestruturação emocional e o adoecimento do sujeito frente ao
que lhe é imposto dentro de uma cultura de consumo desprovida de valores. Uma
sociedade que assiste a tais cenas, é como se estivesse desvinculada de todo
este contexto, sentindo-se um mero espectador, junto a um sentimento de
incapacidade de promover qualquer tipo de mudança, neste repertório que se
repete ano após ano.
Dentro desta perspectiva,
percebe-se na Educação um caminho na busca de libertar o indivíduo,
vinculando-o novamente ao contexto no qual está inserido através do encontro do
conhecimento com a sua realidade. É a educação que pode proporcionar o
desenvolvendo de um espírito crítico nas pessoas, que as façam perceber a sua
própria força e a possibilidade de entrar em cena e fazer as mudanças que sejam
necessárias. Dessa forma a educação colabora para a construção de uma sociedade
mais justa e humana, na qual a democratização da cultura se faça presente,
visto que dentro de uma democracia, assim como todos tem deveres, também
possuem direitos, o que inclui o acesso a uma educação libertadora que só ocorrerá
se o conhecimento estiver aliado aos valores humanos.